sntct 50 anosPassam hoje 50 anos da data em que cerca de 10 mil trabalhadores e trabalhadoras dos CTT, numa grandiosa “Reunião Magna”, decidiram criar o seu sindicato, o SNTCT que completa hoje meio século de vida e luta.

Na sequência da data libertadora do 25 de Abril de 1974, os trabalhadores dos CTT tomaram a iniciativa de se mobilizarem na defesa do saneamento e reestruturação da empresa, colocando-a ao serviço do Povo e do País, na defesa da melhoria das condições de trabalho e na criação do seu Sindicato.

Para o efeito foi convocada uma reunião dos trabalhadores da empresa CTT, que se realizou no Pavilhão dos Desportos (hoje Pavilhão Carlos Lopes), que teve a participação de cerca de 10 mil trabalhadores vindos de todos o País que, entre vários pontos, decidiram criar o seu Sindicato, elegendo uma Comissão Provisória Pró-Sindicato, terminando assim um processo já tentado anteriormente, mas sem sucesso.

Com efeito já em 8 de Abril de 1970 um grupo de trabalhadores realizou uma reunião tendo elegido uma comissão com vista a concretizar a criação de um Sindicato que o regime fascista proibia.

A seguir a esta reunião realizaram-se outras, mas a repressão patronal e policial impediu a concretização deste objectivo, mas a semente ficou a germinar e com as portas que Abril abriu, o sonho tornou-se realidade.

A FECTRANS saúda todas as gerações de homens e mulheres que ao longo destes 50 anos, organizaram e deram vida ao seu sindicato de classe, tornando-o um instrumento de acção e luta em defesa dos trabalhadores dos correios e telecomunicações.

Saudamos todos os associados no SNTCT, hoje filiado na FECTRANS, na certeza que a melhor homenagem que podemos prestar aos pioneiros deste projecto colectivo é continuar o trabalho para o reforço do Sindicato, sempre com o objectivo de defesa dos interesses de classe dos trabalhadores dos correios e telecomunicações.

Acta da reunião de 5 de Maio de 1974 (*)

''Aos cinco dias do mês de Maio de mil novecentos e setenta e quatro, pelas catorze horas, nesta cidade de Lisboa e Pavilhão dos Desportos da Cidade cedido graciosamente pela Câmara Municipal de Lisboa  e com autorização prévia da Junta de Salvação Nacional transmitida verbalmente aos promotores da reunião, Engenheiro Manuel Lourinho de Matos, Rogério Santos Serra, Luís Eurico Calado Nogueira Pinto e Manuel Valente André, pelo Major Vítor Alves, reuniram-se cerca de dez mil trabalhadores da Empresa Pública Correios e Telecomunicações de Portugal vindos de todos os pontos do país convocados que foram por todos os meios, rádio, televisão, imprensa e convocatórias, com a seguinte ordem de trabalhos:

I - Saudar os bravos militares que tornaram possível o Movimento da Forças Armadas de Libertação Nacional e apoiar os princípios e objectivos consignados no seu programa.

II - Participar activamente na aplicação desses princípios e objectivos, sua consolidação e defesa, no saneamento e reestruturação da Empresa.

III - Discutir diversos assuntos e problemas dos seus empregados e suas relações com a Empresa perante as novas exigências da vida nacional.

Os dez mil camaradas, número calculado pelas presenças nas bancadas e corpo central do Pavilhão dos Desportos completamente cheios, coxias e pátios de acesso e também no exterior, por já não terem possibilidade de entrada e para os quais foi feita instalação sonora que a todos permitisse participar nos trabalhos, transportavam cartazes e gritavam "slogans" de saneamento, unidade, reivindicação, etc.

Da mesa faziam parte, entre outros: Luís Eurico Nogueira Pinto, Rogério Santos Serra, Engenheiro Manuel Lourinho de Matos, Manuel Valente André, António Fernandes Cruz, António Peneque Militão.

Do secretariado faziam parte: Carlos Manuel Abreu, Fernando Costa, Doutor Raúl Junqueiro e Eurico Silva.

O Engenheiro Cunha Serra apresentado como reconhecido democrata para a presidência da mesa, a Assembleia reagiu contrariamente à proposta e à forma como a mesa estava constituída. Seguiu-se um período de certa confusão em que se puseram em causa alguns elementos da mesa e do secretariado, tendo alguns elementos da mesa e do secretariado abandonado os trabalhos.

Vários grupos de camaradas que se encontravam perto do estrado tomaram posições na mesa.

Nogueira Pinto e Engenheiro Lourinho de Matos tentaram várias vezes tomar a palavra e pedir calma, mas sem êxito. Entretanto, falaram alguns camaradas tendo, no entanto, a maior parte deles exposto problemas pessoais pois o ambiente era absolutamente reivindicativo e extravasante de tão perto do Cinco de Maio se encontrar o Vinte e Cinco de Abril.

Entretanto, falaram alguns camaradas, entre os quais Renato Mendonça que serenando os ânimos propôs à assembleia que o camarada Ortiz conduzisse a mesma, no que foi bastante aplaudido.

A Assembleia acabou por aceitar a intervenção do Engenheiro Cunha Serra.

Na parte final, após várias propostas e outras moções ficou aprovada a seguinte moção final:

"Os trabalhadores dos CTT de todo o país representados em reunião magna hoje efectuada no Pavilhão dos Desportos de Lisboa, considerando que a aplicação dos princípios e objectivos democráticos do Movimento das Forças Armadas é incompatível com a permanência da maioria dos membros da Administração, Conselho Geral e Fiscal, Directores, IOS, SI e Fiscalizações;

Considerando a necessidade de harmonizar a actual estrutura da Empresa com aqueles princípios e objectivos;

Considerando, ainda, a importância que a actividade dos CTT têm para a economia e segurança do país;

Decidem:

Solicitar à Junta de Salvação Nacional a nomeação duma Comissão encarregada de examinar a actividade dos corpos gerentes dos CTT com vista a apreciar a forma como exerceram os seus cargos, o seu grau de identidade com o regime fascista deposto e a apurar as responsabilidades que eventualmente lhes caibam como dirigentes da Empresa;

Insistir por que aquela Comissão inicie a sua actividade com a urgência imposta pelo papel de relevo que a actividade dos CTT manifestamente tem;

Pedir que, logo após medidas de saneamento se inicie a necessária restruturação da Empresa, tendo sempre em conta as moções aprovadas nesta reunião;

Manifestar a sua pretensão de participarem naquela restruturação através de adequada representação nos órgãos encarregados de a efectuar;

Passar a utilizar imediatamente todas as instalações do CDCR de forma a poder instalar as Comissões Organizadoras Pró-Sindicato.

Viva Portugal”

A certa altura alguns camaradas mais activos juntamente com outros da Comissão que já existia desde mil novecentos e setenta elaboraram uma lista onde entravam elementos da Comissão que existia desde mil novecentos e setenta, a qual apresentada à Assembleia foi aprovada por aclamação. esta lista ficou constituída pelos seguintes trabalhadores:

Carvalho Pereira, Diamantino Raimundo, Gouveia da Costa, Lourinho de Matos, Nogueira Pinto, Rogério Serra, Aníbal Boavida, Alberto Garcia, António Pereira, Isabel Marouco, Libertário Louro, Teófilo Fernandes, A. Mendes Soares, Tavares Ortiz, Manuel André e João Freitas.

Estes camaradas ficaram assim a constituir a Comissão Provisória Pró-Sindicato encarregada de representar os interesses dos trabalhadores e principalmente redigir os Estatutos e organizar o futuro Sindicato dos Trabalhadores dos CTT.

Posto à Assembleia o problema da criação de um ou vários sindicatos dentro da Empresa, os trabalhadores manifestaram-se ruidosamente contra a ideia de vários sindicatos exigindo, por aclamação, a constituição dum SINDICATO ÚNICO.”

(*) Retirada da brochura "Elementos para a história dum sindicato - Como nasceu o SNTCT" de Luís Eurico Calado Nogueira Pinto, edição do SNTCT

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